quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ESTA É A MINHA HISTÓRIA DE POMBO-CORREIO

Tenho a leve impressão de ter sido a criança mais besta do mundo. Não no sentido de ser bobo, porque isso já é natural de toda criança (quase todas). Quando moleque, sempre fui certinho, corretinho em tudo que fazia. Isso ainda é muito vivo em mim, tem coisas que não faço porque acho que não devo fazer — mas muita gente faz. Coisas como pilotar a moto calçando um chinelo, ou sem capacete; dirigir na contramão; ficar com o troco errado do comércio, e outras diversas coisas dessa variável.

Não sei se isso acontece na família de outras pessoas, na minha todas as crianças são pombos-correios. Não no sentido de serem escravas e obrigadas a levar e trazer recados dos adultos. É aquela velha desculpa “está dois dias mais novo que eu”, e funciona. 

Esta é a minha história de pombo-correio. 

Não sei exatamente a idade correta, só sei que vivia a fase do andar sem camisa pela rua. Me vem à cabeça uma bermuda de cor amarelo queimado, não sei o porquê. A ordem de minha mãe era a de ir na casa da minha avó (mãezinha), que mora uma rua atrás da minha, e trazer farinha. Simples. Quer dizer, simples na teoria. 

Fui. 

— Benção, mãezinha? 
— Deus te abençoe! 
— Minha mãe mandou eu vir buscar farinha. 
— Tá em cima da mesa. Pega lá, meu filho. 

Peguei. Voltando... 

Na esquina da rua existia um comércio e, ao lado, uma carrada de areia. Ôh, carrada de areia, por quê? Num jogo de desequilíbrio das pernas, caí. E, consequentemente, a farinha também. Eu poderia ter usado a desculpa de que criança anda com a cabeça no mundo da lua, que foi sem querer ou qualquer outra coisa para me livrar da situação. Mas tive a brilhante ideia de encher o pote, antes de farinha, com areia. 

Imagine uma criança desesperada. Bem, não era eu. Naquele momento eu era o desespero personificado. O que falar para minha mãe? Ela vivia uma fase meio Rochelle e eu não queria ser o Chris. 

Entrei em casa como se estivesse pisando em lã, não queria fazer barulho. Caminhei pelo corredor, cheguei na cozinha e deixei o pote de farinha areia em cima da mesa. Minha mãe viu a cena, que era algo normal. Ela ficou feliz, queria farinha! Na mesma hora colocou um pouco de farinha no prato de comida que tinha acabado de fazer para almoçar. 

 — Weiller, o que é isso? 
— Foi sem querer!!! 
— Tira a roupa, liga o chuveiro e me espera lá! AGORA!!! 

Calma. Este poderia ter sido o resultado da situação. P-o-d-e-r-i-a. Corri antes. Fui para a casa da mãezinha. 

—Mãezinha, minha mãe vai me bater.