terça-feira, 10 de maio de 2016

Conto: SAZÕES DE ROMEO

INTROSPEÇÃO

Colados. Selados. Lacrados. Os olhos fechados revelam o abandono das cores do mundo real e a imersão nas fantasias da imaginação. Romeo é jovem. Um peregrino de suas próprias indagações. De tempos em tempos viaja em busca de conhecer o Eu. 
– É chegada a hora de renascer, purificar a mente – dizia Romeo, sem descolar os lábios, sem expressar reações.


DESERÇÃO 

Eram três anos não olhando para trás. A angústia amargava como fel em sua boca. Estava cego, mergulhado em decepções. 
Como um cavalo livre pôs-se a galopar. Era uma decisão sua. Viajar o tempo, reconhecer a vida, em todas as suas sazões. A rapidez poderia ser entendida como fuga. Talvez, quem sabe, um não enfrentamento dos problemas condenados a ele. 
A terra onde vivia era amaldiçoada, recomeços não caberiam ali. Jamais. A intrínseca chance seria a extinção daquele lugar falido, daqueles habitantes desprovidos de coragem. 
Se não foi a escolha correta, nem lamentos lhe acontece. Queria mesmo esquecer, refazer seu contexto e mudar de corpo. Ideia e realidade. 


RATIFICAÇÃO 

Não sabia muito de si para continuar seus planos. Sabia assim, seu nome, sua cor. Precisava de mais, não sabia sua idade. Se conhecer estava além das conquistas corriqueiras da vida. Para o jovem rapaz, era oxigênio. Vida.
Nunca soube o que seria contentamento, apenas que descobriria todos os segredos do mundo, se soubesse primeiro os próprios.
Quem de fato seriam os progenitores?
Perguntas se aglomeravam, e Romeo, se esse era o nome, só conseguia lembrar uma senhora que sempre o cumprimentava com um ramo seco entre os dedos. 


EXPECTAÇÃO

Precisava encontrá-la. Urgentemente ver as portas, procurar lembranças.
O caminho foi tortuoso, mas ali estava. A referência seria uma árvore seca de vários anos, alguns passos à esquerda. Viu-se, então, a casinha simples e misteriosa. Seria seu destino estar preso ao desconhecido?
Seus passos falharam e a senhora sentada o observava. Estender a mão?
Antes disso, seus pés esbarraram em um tronco ao chão e rapidamente levantando-se houve o choque. Um lugar destruído pelo tempo, em destroços de uma casinha. Uma data riscada com ramos secos, grudados em tábuas velhas, o resto, sendo o fim. Romeo, diferente de todos. Sempre foi. Jovem, mas velho nos pensamentos da senhora. Alucinações de um amor proibido.


Mateus Weiller e Ana Rita Serafim

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