quinta-feira, 19 de maio de 2016

Quero Entender



A vida é cheia de surpresas. Boas ou ruins, elas acontecem. Ontem recebi um email de Rita, minha amiga e companheira de escrita, com o texto de um tio seu. Ao ler os oito parágrafos eu viajei em infinitas possibilidades, alternativas e compreensões.

INSPIRADORA, essa é essa a palavra certa pra descrever esta obra. Estou fugindo dos "padrões", assim como o último conto publicado. Quero Entender não é de minha autoria. É uma honra publicar algo do gênero aqui. Decidi dividir com vocês. Espero que gostem, assim como eu gostei.  


O mundo passa e com ele eu também. No meu passar vejo o mundo passando, mas não quero eu ficar apenas contemplando. Quero eu ser protagonista de algo nesse passar do mundo, mas não consigo compreender, talvez por que ainda não me compreendi.

O que sou? Um homem voraz impiedoso como eram os caçadores do paleolítico? Ou um homem domesticado preocu
pado com a plantação, criação de animais lactantes e com a criação de meus herdeiros? Sei que me transformei do homem paleolítico para um novo modelo do neolítico. E também sei que isto é essencial para o que sou hoje, afinal todos nós precisamos de uma morada, todos nós precisamos de um porto aonde ancorar nossas certezas, nossas felicidades, nossa arte.

Mas sei também, que guardo em mim, lá no fundo das minhas incompreensões, aquele homem voraz e impiedoso, que vez e outra sempre mostra os seus dentes afiados na face, face até das pessoas que amo.

O que o mundo é? Uma floresta habitada por animais nômades? Uma aldeia que não se firma por muito tempo? Ou uma cidade que resiste aos intemperes naturais e sociais?

O que eu sou? Um homem que busca domesticar seu eu escondido? Ou um que aprende a ser outro por saber o que é mais importante para o seu eu, que já não se basta apenas em sim e precisa transbordar para os demais?

Sei sim, que o mundo que passa tem muito do homem em mim do que posso compreender. Sei sim, que para compreender o mundo preciso compreender primeiro a mim mesmo e nesta compreensão procuro expandir para além de mim. Procurar transformar uma reflexão pessoal em uma reflexão social.

Mais algo vem tomando o meu ser. Minha incompletude me afirma que a razão que me faz pensar e ter certeza, não é suficiente para minhas certezas. Sinto que falta algo, sinto que a razão não é suficiente, parece que ela não está completa, falta algo...

É como a certeza de que a cidade dos mortos veio primeiro que a cidade dos vivos, pois é pensando em guardo nossos entes queridos que passamos a fixar nossas moradas. É na certeza de está-se em um lugar seguro, lugar para vivenciar o amor, a guarda, a alimentação, para dançar, cantar, pintar, modificar a beleza da natureza de acordo com a minha incompletude a fim de entender a si, e assim entender um pouco do mundo. É isso que impulsiona a procurar minhas raízes. É isso que me movimenta a querer entender...


* Marcos André Souza Frazão.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Conto: SAZÕES DE ROMEO

INTROSPEÇÃO

Colados. Selados. Lacrados. Os olhos fechados revelam o abandono das cores do mundo real e a imersão nas fantasias da imaginação. Romeo é jovem. Um peregrino de suas próprias indagações. De tempos em tempos viaja em busca de conhecer o Eu. 
– É chegada a hora de renascer, purificar a mente – dizia Romeo, sem descolar os lábios, sem expressar reações.


DESERÇÃO 

Eram três anos não olhando para trás. A angústia amargava como fel em sua boca. Estava cego, mergulhado em decepções. 
Como um cavalo livre pôs-se a galopar. Era uma decisão sua. Viajar o tempo, reconhecer a vida, em todas as suas sazões. A rapidez poderia ser entendida como fuga. Talvez, quem sabe, um não enfrentamento dos problemas condenados a ele. 
A terra onde vivia era amaldiçoada, recomeços não caberiam ali. Jamais. A intrínseca chance seria a extinção daquele lugar falido, daqueles habitantes desprovidos de coragem. 
Se não foi a escolha correta, nem lamentos lhe acontece. Queria mesmo esquecer, refazer seu contexto e mudar de corpo. Ideia e realidade. 


RATIFICAÇÃO 

Não sabia muito de si para continuar seus planos. Sabia assim, seu nome, sua cor. Precisava de mais, não sabia sua idade. Se conhecer estava além das conquistas corriqueiras da vida. Para o jovem rapaz, era oxigênio. Vida.
Nunca soube o que seria contentamento, apenas que descobriria todos os segredos do mundo, se soubesse primeiro os próprios.
Quem de fato seriam os progenitores?
Perguntas se aglomeravam, e Romeo, se esse era o nome, só conseguia lembrar uma senhora que sempre o cumprimentava com um ramo seco entre os dedos. 


EXPECTAÇÃO

Precisava encontrá-la. Urgentemente ver as portas, procurar lembranças.
O caminho foi tortuoso, mas ali estava. A referência seria uma árvore seca de vários anos, alguns passos à esquerda. Viu-se, então, a casinha simples e misteriosa. Seria seu destino estar preso ao desconhecido?
Seus passos falharam e a senhora sentada o observava. Estender a mão?
Antes disso, seus pés esbarraram em um tronco ao chão e rapidamente levantando-se houve o choque. Um lugar destruído pelo tempo, em destroços de uma casinha. Uma data riscada com ramos secos, grudados em tábuas velhas, o resto, sendo o fim. Romeo, diferente de todos. Sempre foi. Jovem, mas velho nos pensamentos da senhora. Alucinações de um amor proibido.


Mateus Weiller e Ana Rita Serafim